quarta-feira, 10 de junho de 2015

Técnicas de melhoramento aumentam produtividade


As estratégias clássicas de conservação genética são amplamente utilizados no Brasil, porém verifica-se cada vez mais a necessidade do uso de estratégias complementares que promovam a conservação dos recursos genéticos florestais brasileiros, além de aumentar a produtividade.

Espera-se que a conservação e uso dos recursos genéticos florestais possam através de programas de melhoramento genético contribuir para a diminuição das pressões sobre os ecossistemas florestais e, ao mesmo tempo, aumentar a capacidade de inserção e relevância do setor florestal no Brasil e no cenário mundial, seja pela produção de fibras a partir de florestas de rápido crescimento, seja pela contribuição das florestas nativas, a partir de produtos madeireiros e não madeireiros.

A silvicultura intensiva moderna teve início no Brasil no início do século passado, com o estabelecimento das plantações florestais com espécies exóticas para substituição da madeira das florestas nativas de difícil reposição, principalmente com eucaliptos.

Apesar do primeiro programa de melhoramento genético de eucaliptos, elaborado em 1941, ter sido considerado como um dos mais avançados para a época, as sementes de eucaliptos de melhor qualidade genética disponíveis para plantio, até a década de 1960, eram provenientes de parcelas experimentais ou talões desbastados, mas sem isolamentos contra polens não desejáveis. No conceito atual, essas fontes de sementes seriam algo entre Área de Coleta de Sementes-ACS e Área de Produção de Sementes-APS. De modo geral, os plantios de eucaliptos originados dessas sementes apresentavam alta porcentagem de híbridos (conhecidos como salalbas).

Os primeiros Pomares Clonais de Sementes - PCS's de eucaliptos e pinus foram estabelecidos apenas a partir do final da década de 1960. Esses pomares tinham como objetivo atender à demanda crescente de sementes, tanto quantitativo como qualitativamente, para atender o programa de incentivos fiscais ao reflorestamento. A taxa de plantio anual na época dos incentivos fiscais (1966 a 1986) chegou até 400 mil hectares por ano, o que correspondia a 800 milhões de mudas ou em torno de duas toneladas de sementes de eucaliptos e pinus. As árvores que compunham as APS's e PCS's eram selecionadas fenotipicamente nos melhores talhões existentes ou em plantios experimentais.

No início da década de 1970 foram instalados os primeiros testes de progênies e iniciadas a reintrodução de germoplasmas, com base genética apropriada, de espécies/procedências selecionadas. As atividades relacionadas com a produção de sementes melhoradas de eucaliptos e pinus foram priorizadas nas décadas de 1970 e 1980. Levantamentos da pesquisa florestal em andamento no Brasil realizados pela Embrapa em 1978, 1980 e 1987 (Embrapa, 1987), mostram que a maioria absoluta dos 2043 experimentos em andamento eram da área de melhoramento genético. Esses experimentos incluíam arboretos, bancos clonais, ensaios de espécies, pomares de sementes, testes de procedências, testes de progênies, clonagem, conservação genética, etc.



Produtividade

A ocorrência do cancro basal, causado pelo fungo Cryphonectria cubensis, em plantações de eucaliptos no Espírito Santo provocou a mudança mais significativa observada na eucaliptocultura brasileira e mundial. Em 1979 a empresa Aracruz Florestal estabeleceu a primeira floresta clonal no Brasil. Essas novas florestas clonais eram resistentes ao fungo, homogêneos e apresentavam altos ganhos em produtividade. Aperfeiçoamentos nas técnicas de propagação e seleção incluíram, além do volume, características relacionadas com a qualidade da madeira. A silvicultura clonal proporcionou ganhos de produtividades superiores a 200%.

Com o término dos incentivos fiscais aos reflorestamentos em 1986 inicia-se outra fase na história da silvicultura intensiva no Brasil. Aliado à diminuição dos investimentos no reflorestamento, observa-se um aumento das pressões dos ambientalistas contra o sistema de monocultura usado nos reflorestamentos, e a diminuição do preço internacional da celulose (principal produto industrializado do reflorestamento), provocando reformulações significativas nas empresas florestais para enfrentar a globalização da economia.

Esses fatos ocasionaram mudanças drásticas no setor de pesquisa florestal. Nessa época, muitos grupos de pesquisa, principalmente ligados às empresas florestais foram desativados. Como conseqüência podem ser destacados os seguintes fatos observados atualmente: a) não há sementes de qualidade genética comprovada de Pinus taeda suficientes para atender a demanda de plantios no sul do Brasil; b) os níveis de produtividade permanceram constantes nesta última década; e c) as florestas clonais de eucaliptos plantadas na região tropical tem base genética restrita e, portanto, apresentam altos riscos em relação à sustentabilidade.



Para agravar ainda mais a crise na área de pesquisa em melhoramento genético clássico, o mundo científico começa a tomar contato, nesta última década, com a potencialidade de novas ferramentas proporcionados pela genética molecular. A disponibilidade de organismos geneticamente modificados - OGM's, resistentes a um tipo de herbicida, começam a despertar o interesse do setor florestal em obter florestas clonais formados com OGM's mais produtivos, mais resistentes a fatores bióticos (doenças/pragas) e abióticos (geadas, déficit hídrico), que produzam melhor qualidade da madeira (maior rendimento em celulose, menor teor de lignina, etc).

Apesar do desconhecimento das reais possibilidades de retorno do investimento a curto e médio prazo, os recursos já escassos na área de melhoramento florestal passaram a ser divididos com esses novos interesses, principalmente pelo setor público, que tem priorizado o apoio a essa área na formação de recursos humanos e capacitação de laboratórios em nível nacional.

Além da melhoria da produtividade e qualidade da madeira, dois outros assuntos, altamente ligados ao melhoramento genético, tem despertado o interesse do setor florestal: a) desenvolvimento florestal ecologicamente sustentável e b) efeitos da mudança climática.

O desenvolvimento florestal ecologicamente sustentável é entendido como a habilidade da floresta fornecer benefícios múltiplos a longo prazo, seu papel central nos processos de sustentação da vida e seu valor para o meio ambiente. No caso de florestas nativas, existe a expectativa que o manejo sustentável possa garantir a perpetuação dos valores econômicos, ambientais e espirituais, sem causar mudanças na estrutura e função do ecossistema florestal.

Existe, também, consenso sobre a crescente importância do estabelecimento e manejo de plantações florestais em diferentes condições ambientais, para diferentes finalidades. No entanto, há grupos que defendem que as plantações florestais devem seguir a estrutura e função das florestas naturais, e outros mais pragmáticos, onde a plantação florestal é vista como um agro-negócio que tem que ser economicamente competitivo em relação a outras alternativas de investimentos. O Brasil, a Nova Zelândia, o Chile e a África do Sul seguem esse último modelo.

As altas produtividades observadas nas plantações florestais nesses países resultam da combinação de material genético selecionado (ações de melhoramento genético) e condições ambientais favoráveis (disponibilidade de água, nutrientes e luminosidade). O manejo sustentável dessas plantações se deve, portanto, a alguns fatores chaves, como a manutenção da produtividade biológica a longo-prazo e a manutenção da capacidade ambiental do sítio.

Alguns programas de melhoramento genético já estão incluindo a seleção de material genético mais eficiente na utilização da água e nutrientes do solo, menos sensíveis às mudanças climáticas (mais estáveis).

Entre os aspectos observados nessa última década e que tem contribuído para obtenção de melhores resultados nos programas de melhoramento florestal, podemos destacar:

- uso de instrumental desenvolvido para o melhoramento genético animal e adaptado para aplicações vegetais, visando a análise de dados experimentais e seleção genética de árvores a serem usadas como produtoras de sementes ou fornecedoras de material para clonagem massal;

- visão holística, decorrentes de participação de diferentes especialistas na discussão e definição das estratégias de melhoramento, onde são considerados desde as variações climáticas e de solo, a produção de mudas, a conservação do solo, o método de plantio, o manejo do povoamento, a proteção contra pragas e doenças, a colheita e as demandas qualitativas do mercado ou consumidor final.

- integração de aspectos de manejo e de melhoramento para a produção de um produto final específico, com base no desenvolvimento de projetos multidisciplinares



Melhoramento

De modo geral, e com raríssimas exceções os esforços mais significativos de produção de sementes geneticamente melhoradas realizados no Brasil até o momento, foram canalizados para as espécies dos gêneros Eucalyptus e Pinus. Entre as exceções podemos destacar o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia) e a erva-mate (Ilex paraguariensis). Estas foram consideradas as espécies da floresta com Araucária (Floresta Ombrófila Mista) com maior potencial para uso em reflorestamentos econômicos, e tem sido objeto de estudos da UFPR/FUPEF, Embrapa Floresta, e empresas privadas no sul do Brasil, existindo inclusive, disponibilidade de sementes de Área de Produção de Sementes - APS's e, num futuro próximo, disponibilidade de sementes de Pomar de Sementes por Mudas - PSM.

Este cenário de um pequeno número de espécies nativas sendo alvo de pesquisas de melhoramento florestal reflete o baixo nível de investimento em P&D tanto pelo setor público como privado. Por outro lado nas últimas décadas tem se observado a crescente demanda por sementes de essências nativas (estimativas do IPEF quanto à demanda anual de sementes de nativas é de aproximadamente 10 ton durante o período entre 2000-2004). Infelizmente a produção de sementes (estimada em 7 ton) não tem atingido a demanda, e além disso nem sempre a qualidade genética dos materiais utilizados é garantida, ou seja a partir da coleta de sementes em populações amplas e propriamente identificadas.

Como recomendações deve-se observar -

- Uso das ferramentas quantitativas (estimativa de parâmetros genéticos);

- Manuseio e armazenamento de sementes, inclusive com a agregação de valor pela qualidade fisiológica das sementes;

- Certificação das áreas de produção de sementes;

- Uso de marcadores genéticos para estudos de diversidade genética e seleção assistida;

- Implantação de estratégias de conservação através do uso;

- Papel da diversidade genética para minimizar os potenciais impactos de mudanças climáticas (longo prazo).



Recursos genéticos florestais

Existem duas metodologias para a conservação dos recursos gen~eticos florestais: a) conservação in situ e, b) conservação ex situ. Com exceção de algumas, como o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia) a maioria das espécies florestais incluída na relação das espécies em extinção, ou de interesse para conservação, são espécies nativas, perenes, de grande porte, e cuja sustentabilidade silvicultural é complexa ou desconhecida.

Para essas espécies, a melhor metodologia é a conservação genética in situ. Como a conservação in situ é realizada através da manutenção de uma população em condições naturais, atualmente a única forma de garantir sua efetividade a longo prazo é através de estabelecimento das diferentes modalidades de Unidades de Conservação-UC's, como Parques (Nacionais, Estaduais ou Municipais), Reservas Biológicas, Reservas de Patrimônio Privado Natural, etc.

No entanto, como grande parte dos RGF de interesse para conservação estão em pequenas e médias propriedades rurais, onde a prioridade é garantir a subsistência de seus proprietários, o desafio a curto prazo é desenvolver metodologias de manejo onde seja possível a conservação pelo uso.

Por: Kerolly Lopes

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